Setor agropecuário brasileiro em alerta diante de possível tarifaço nos EUA


O agronegócio brasileiro acompanha com atenção a possibilidade de que commodities essenciais, como grãos, madeira, etanol e açúcar, sejam alvos de um tarifaço a ser anunciado nesta quarta-feira (2) pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Diante desse cenário, líderes do setor veem no projeto de lei da reciprocidade, em discussão no Congresso Nacional, um instrumento fundamental para proteger a economia agropecuária brasileira e garantir um contrapeso nas negociações comerciais.
As incertezas em relação às medidas do governo norte-americano dominaram os debates do primeiro dia do Cana Summit, evento promovido pela Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), realizado no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília.
Segundo o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), os sinais negativos em relação ao setor madeireiro já são evidentes, especialmente para produtos como MDF e compensados. Ele também destacou a preocupação com etanol e açúcar, que historicamente enfrentam entraves no comércio bilateral com os EUA.
"O Brasil é um grande produtor de etanol de milho, e qualquer movimento protecionista pode impactar diretamente nossa exportação", alertou.
Lupion ponderou, no entanto, que uma guerra comercial seria prejudicial tanto para os Estados Unidos quanto para o Brasil, uma vez que os norte-americanos dependem de vários produtos brasileiros. "Exportamos muito para eles, incluindo minérios essenciais para a indústria. O setor agro também seria afetado, pois utilizamos essas matérias-primas na fabricação de equipamentos, silos e estrutura de armazenagem", explicou.
Por outro lado, o parlamentar apontou que eventuais restrições a outros países podem abrir espaço para o Brasil no mercado internacional. "Nas últimas semanas, a disputa comercial entre EUA e China beneficiou o agro brasileiro, que viu uma demanda crescente por seus produtos", exemplificou.
O CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira, ressaltou a relevância do etanol brasileiro no mercado global e defendeu que o setor não seja tratado como moeda de troca nas negociações comerciais. "Nosso etanol é altamente competitivo, principalmente pela menor intensidade de carbono em comparação ao etanol de milho produzido nos Estados Unidos. Essa vantagem ambiental é um diferencial que precisa ser mantido", afirmou.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também participou do evento e reforçou a importância da lei da reciprocidade para equilibrar relações comerciais. Ele destacou que o Brasil é insubstituível no fornecimento global de café, especialmente diante do crescente consumo na Ásia. "Nenhum outro país tem condições de atender essa demanda como o Brasil", pontuou.
O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, chamou a atenção para o cenário global de incertezas e reforçou a necessidade de organização da sociedade para proteger o setor produtivo. "Vivemos um momento de instabilidade mundial, com desmanche de instituições multilaterais e polarização política. Precisamos estar preparados para garantir o futuro do nosso agronegócio", afirmou.
Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB e presidente do Instituto Pensar Agropecuária, destacou que, apesar dos desafios, as discussões em torno da lei da reciprocidade estão bem encaminhadas no Congresso. "O setor agropecuário brasileiro é forte e resiliente, e contamos com um debate político qualificado para defender nossos interesses", concluiu.
Diante desse panorama, o agro brasileiro segue atento às decisões do governo dos EUA e às medidas internas para proteger sua competitividade no mercado internacional.
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