
O setor do agronegócio, em constante atrito com o governo federal, já observa potenciais candidatos para a disputa presidencial de 2026. Para lideranças do segmento, não há chances de reaproximação, independentemente dos acenos do Ministério da Agricultura.
A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) se destaca entre os críticos da atual gestão. Em um evento da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em junho passado, o presidente da entidade, João Martins, afirmou que se recusa a dialogar com o presidente Lula, classificando o governo como um "desgoverno". Por outro lado, a CNA premiou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e tem auxiliado Ronaldo Caiado (União-GO) em sua pré-campanha.
Definição de um candidato
Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e diretor da CNA, afirma que o setor ainda não tem um nome definido, mas garante que apoiará um candidato de centro-direita.
" Esse governo está gastando demais, e o caminho da arrecadação já bateu no limite faz tempo "declara Pereira."Não diria que temos um candidato, mas certamente ele estará na centro-direita.
Líder da bancada ruralista, o deputado Pedro Lupion (PP-PR) ressalta que as tentativas de diálogo com o ministro Carlos Fávaro (PSD) não se estendem a outras áreas do governo, como Meio Ambiente e Fazenda. Para ele, a atual gestão federal gera desconfiança no setor.
"São várias trapalhadas, o que frustra um setor que depende de um bom ambiente econômico para investir "afirma Lupion.
A disputa no campo político
O setor agropecuário vê em Tarcísio de Freitas um potencial candidato "dos sonhos", mas também respeita nomes como Caiado, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) e os governadores Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG). Há também a presença de outsiders na discussão, como o influenciador Pablo Marçal (PRTB) e o cantor sertanejo Gusttavo Lima.
O professor Caio Pompeia, da Universidade Federal de Viçosa, aponta a consolidação de um movimento "agrobolsonarista" desde 2016, que se identifica com pautas conservadoras, defesa da liberação de armas e oposição ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
"A maioria do agro se insere em variados matizes da direit" resume Pompeia.
Resistência ao governo
A política fiscal do governo é uma das principais fontes de atrito com o agronegócio. O economista Felippe Serigati, da FGV Agro, afirma que a expansão do gasto público pressiona a inflação e as taxas de juros, dificultando o crédito para o setor.
"O setor tem que preparar sua safra com custos de financiamento muito elevados, o que é um reflexo direto da política fiscal do governo" explica Serigati.
Apesar das críticas, o governo tem buscado reduzir resistências. O Plano Safra liberou um volume recorde de recursos para financiamento da atividade, e a abertura de mercados para commodities foi reforçada com o acordo entre Mercosul e União Europeia. Ainda assim, Lula reconhece a existência de um "problema ideológico" entre sua gestão e o setor.
"Existe um preconceito de fundo ideológico de ambas as partes" afirma Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), que aponta o MST como um dos principais fatores de atrito.
Festas e feiras: presença de Lula e Bolsonaro
O distanciamento do governo ficou evidente na Bahia Farm Show, em 2023, única feira agropecuária de que Lula participou até o momento. Durante o evento, o presidente fez uma declaração polêmica ao dizer que a feira faria "inveja a alguns fascistas", em referência a adversários políticos do setor.
Por outro lado, Bolsonaro e aliados comparecem com naturalidade a eventos como a Festa do Peão de Barretos (SP), a Expointer (RS) e a Agrishow (SP), onde a presença de membros do governo federal foi vetada.
Satisfazendo parte do setor
Apesar das críticas predominantes, algumas entidades destacam avanços. Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), elogiou a ampliação de mercados para exportação e o aumento das vendas em dólar.
"Estamos batendo recordes sucessivos, graças à parceria com a Apex Brasil nas feiras e missões internacionais"afirma Coelho.
A Abag e a Abramilho preferiram não se manifestar por se considerarem "apartidárias". Outras entidades do setor também não quiseram comentar o tema.
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