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Ambientalistas e empresários 'não chegam a acordo' sobre economia circular do plástico

A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) realizou uma audiência pública sobre o PL 2524/2022, que cria um marco regulatório sobre a economia circular do plástico. O debate foi conduzido pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que destacou o papel da CAS para que o projeto inclua as cooperativas de catadores no pagamento por serviços ambientais (PSA), assim como em ações visando diminuir a poluição, especialmente nos oceanos.

O projeto já tem o parecer pela aprovação, feito por Zenaide Maia (PSD-RN). A senadora defendeu que o PL 2524/2022 é relevante no combate à poluição oceânica, mas também para as águas continentais, em ambientes terrestres e até no corpo humano.

Alguns dos participantes do debate, especialmente os ligados à cadeia produtiva do plástico, defenderam mais investimentos na reciclagem, como uma forma positiva de diminuir o impacto ambiental sem causar abalos na geração de empregos e renda.

— O PL 2524/2022 segue a tendência internacional de diminuir o uso de plásticos. A União Europeia já determinou regras de banimento ou de grandes restrições ao plástico de uso único. E o Congresso do Chile proibiu o comércio e uso de embalagens de plástico descartável e não biodegradável — lembrou Zenaide.

Em linhas gerais o projeto propõe o banimento, em um ano, de produtos plásticos de uso único e proíbe, após sete anos, o uso de embalagens plásticas que não sejam retornáveis.

A visão ambientalista

Ítalo Braga alertou que a ciência já estuda correlações entre a presença maciça de microplásticos, hoje encontrada facilmente em órgãos humanos como o coração e o fígado (além de no sangue, placenta e até no leite materno), e seu potencial no surgimento de tumores e inflamações. O biólogo também falou sobre a opção da União Europeia de banir, nos próximos anos, o plástico para utensílios de uso único.

Lara Iwanicki, da ONG Oceana, apresentou levantamentos da Fundação Ellen MacArthur, apontando que o fortalecimento da economia circular do plástico tem o potencial de criar cerca de 700 mil empregos no Brasil até 2040. O mesmo estudo projeta que a substituição de 20% das embalagens de uso único por alternativas reutilizáveis pode gerar R$ 50 bilhões em novos negócios.

A visão da indústria

André Passos, da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), disse que esse setor gera 2 milhões de empregos diretos e indiretos, o que torna o Brasil a 6ª maior indústria química de todo o mundo. O setor é responsável por 12% do PIB industrial, e gera R$ 30 bilhões por ano na arrecadação de tributos.

Devido à robustez do setor, a Abiquim entende que o PL 2524/2022 representa uma "medida radical" de banimento de plásticos, sem uma "análise mais aprofundada" quanto a seus impactos econômicos, sociais e ambientais, especialmente os impactos na geração de empregos e renda. Passos entende que o texto, da forma como está, pode inviabilizar a produção de diversos químicos, afetando cadeias produtivas inteiras.

— Quando você bane o polietileno, fica inviabilizada a produção de outros químicos também. Fica inviabilizada uma cadeia produtiva integrada inteira, afetando os mercados de detergentes, cosméticos, PVC e saneamento, por exemplo — detalhou.

Passos também teme que o projeto pode, ao invés de incentivar a neoindustrialização, aprofundar a desindustrialização do Brasil. Ele acredita que as medidas "radicais" do projeto podem aumentar a importação de bens industriais, prejudicando a balança comercial. O representante da Abiquim defendeu que o PL 2524 é muito mais uma medida de "banimento" de plásticos do que de incentivo à economia circular.

O advogado Fabrício Soler, especialista em direito ambiental, também criticou o PL 2524/2022.

— O banimento e a criminalização da produção parecem medidas extremas num cenário de proteção constitucional à livre iniciativa. É importante o Brasil acompanhar os debates sobre o Tratado Global dos Plásticos e fomentar uma transição justa, equitativa e inclusiva, pensando também nos catadores e cooperativas — defendeu.

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Fonte: Agência Senado

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